terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ceticismo e laiciedade em Montaigne

Em Montaigne, o foco da reflexão filosófica funda-se no “EU” contraditório, cambiante, independente e autônomo. O fundamento, a base para o comportamento do homem, segundo Montaigne, está na cultura. Montaigne adere ao ceticismo, como forma de observação do mundo.
Assim, passa a perceber outras civilizações como possíveis e diferentes, e não como inferiores, como se extrai, por exemplo, do texto “dos canibais”, em seus Ensaios. O conflito surgido pela observação cética do mundo leva ao surgimento de conflitos irresolúveis, em que há um desacordo indecidível.
A certeza vai decorrer de um correlacionamento do sujeito com seu próprio pensamento, em que a verdade passa a ser construída individualmente, inviabilizando a arbitragem. O mundo dos fenômenos, admitindo a diversidade, vai gerar uma verdade privada, movida pela relatividade.
Na visão do ceticismo, o mundo é composto por seres humanos diferenciados e construídos a partir de circunstâncias histórias, culturais, etc. Desse modo, Montaigne, como os demais adeptos do ceticismo, vai conceber o Estado laico, separado da religião, uma vez que para ele a religião depende de circunstâncias culturais, não podendo ser utilizada como fundamento para o coletivo, para o Estado, para a ordem social.
Para Montaigne, ao mesmo tempo em que o mundo é marcado pela tolerância, ele possui um limite bem definido, que é a crueldade. O soberano não tem o direito de ser cruel e não pode impor uma religião estatal.

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